Criação
Como costela de origem
o osso
do sonho cresce
e o dormir do homem
cria
a manhã do mundo
na ovulação de um sol
guardado
para confrontação
entre sexo e Deus
Desvirgina-se a bainha
do sonho
Nasce a aurora
derramando sangue
em lençóis de nuvens
Paisagem
O amarelo
gira
ou gera
seu ouro inundado
de sol
A ira da luz
circula
em redor do eixo
que move
a manhã
máquina de flor
a construir paisagens
O azul olha
só de longe
com seu poder de horizonte
Constatação
O silêncio é a verdade
que ninguém disse
a forma de ser das coisas
e a travessia única
que pode levar o homem a Deus
A verdade não é feita para a boca
e o ouvido não precisa escutá-la
para que o homem saiba
que é vã
a matéria de seu destino
Epitáfio
Cabemos todos numa caixa
como um objeto que apodrece
em sua preciosidade
Pagamos pelo enterro
do pó que somos
e escrevemos palavras sobre
o silêncio que fica
como se a morte fosse fazer a leitura
de um assunto
para sempre encerrado
Fonte
Uma água bebida
não seca
a fonte
Desce pela garganta
o sonho
A paz não engasga
ninguém
Saliva real
O sal
no experimento da língua
sabe o sabor
da vida
O sal tempera
a não deglutida
certeza do mundo
O sal pode ser
o salário
da morte
Mesa sem jantar
A fome não teme
a faca
e o garfo
na mesa vazia
O prato espera limpo
e paciente
a lavagem
do que não teve
Nenhuma boca
exprime o pão
de cada dia
José Chagas
Para adquirir o livro
email:deusanachagas@gmail.com
Um comentário:
Nem acreditei quando encontrei o seu blog! Admiro a sua poesia e sempre leio e indico seus poemas aos meus amigos poetas.
Gosto de todos os poemas aqui. Criação e Fonte são lindíssimos!
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