domingo, 24 de maio de 2009
Fragmento do poema Os canhões do silêncio - José Chagas
Igreja do Desterro - São Luís - MA
Mirante - São Luís - MA
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O mapa da fé
só mostra aqui
a linha devota do vento
e o horizonte caído aos pés do azul
como um crente abraçando
a cintura de Deus
Sem falar nas torres do Desterro
e de São Pantaleão
ao sul e ao leste do mirante
e que derramaram sinos
sobre quantas manhãs antigas
deixaram o passado ao alcance dos olhos
como uma paisagem de agora
para uma janela de ontem
O sopro de Deus
sustenta em pé na memória
o barro primeiro
que moldou a igreja no tempo
Os telhados congregam o ritmo
dos vôos
e a cidade é posta em frente à lembrança
como um distante mover de asas
se acomodando no pouso
Desde quando a janela me ensina o espaço
desde quando me ensino a ser eu
desde quando o silêncio me dá sua razão
eu não sei de mim senão que me perco
no uso do que me rodeia
como quem solto num deserto
não sabe livrar-se dele?
Ah é preciso saber quanto
de São Luís recai sobre
uma pessoa em estado de mirante
É preciso conter a cidade
no seu avanço contra o olho
que a espreita em trincheira de sonhos
mas se abre cego de si mesmo
perdida visão emborcada sobre o mistério
O vento na pele
o tempo na alma
a carga do passado exigindo
do osso e das ruínas
o equilíbrio de sua razão
porque recordar é uma força
que move o vento para trás
e pode romper o eixo da vida
quebrar em desastre o trem dos séculos
A cidade foi possuída
pelo tempo
está grávida
de seu passado
e dependendo de nós
poderá parir um demônio
ou um anjo
Poderá errar no verbo e na carne
sem distinguir
entre
corpo e
porco
ou entre
alma e
lama
Sem distinguir entre
grito e
trigo
na hora da fome
muro e
rumo
na hora de ir
furto e
fruto
na hora do lucro
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Fragmento do livro Os canhões do silêncio
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deusanachagas@gmail.com
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