Já sem paletó,
o homem desata
o vaidoso nó
e sua gravata.
A calça, a camisa,
a cueca, a meia,
o que lhe ameniza
a figura feia,
tudo o homem tira
para libertar-se
de sua mentira
ou de seu disfarce.
No monte de roupa
de que se desfez,
fica o que não poupa
de sua nudez.
Agora ele é
um bicho peludo,
exibindo em pé
seu porte desnudo.
Agora ele sente
que é forte e que é fraco,
tendo um quê de gente
e um quê de macaco.
Agora ele nota
quanto de animal
revela a marmota
de seu ritual.
E nem sequer sonha
nesse gesto cru
com a antiga vergonha
de saber-se nu.
O Adão que ele era
morreu indeciso,
na perdida esfera
de seu paraíso.
E é em vão que hoje colha,
numa ação primeira,
a última folha
da antiga parreira.
Poema inédito
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