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quarta-feira, 13 de maio de 2009

O novo Adão - José Chagas

Já sem paletó,
o homem desata
o vaidoso nó
e sua gravata.

A calça, a camisa,
a cueca, a meia,
o que lhe ameniza
a figura feia,

tudo o homem tira
para libertar-se
de sua mentira
ou de seu disfarce.

No monte de roupa
de que se desfez,
fica o que não poupa
de sua nudez.

Agora ele é
um bicho peludo,
exibindo em pé
seu porte desnudo.

Agora ele sente
que é forte e que é fraco,
tendo um quê de gente
e um quê de macaco.

Agora ele nota
quanto de animal
revela a marmota
de seu ritual.

E nem sequer sonha
nesse gesto cru
com a antiga vergonha
de saber-se nu.

O Adão que ele era
morreu indeciso,
na perdida esfera
de seu paraíso.

E é em vão que hoje colha,
numa ação primeira,
a última folha
da antiga parreira.

Poema inédito

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Poema do livro De lavra e de palavra ou Campoemas

DE QUEM SERIA O CAMPO, NO COMEÇO,
QUANDO A TERRA NÃO ERA DE NINQUÉM?


LVI

Trabalhar para ter só o cansaço,
como o poeta português dizia,
é o destino de quem, no chão escasso,
busca arrancar o pão década dia,
e se sustenta apenas no fracasso,
por tirar do fracasso a teimosia
de novamente impor o corpo lasso
para além do que o corpo poderia,
como a pensar que o que não pode o braço,
pode em si mesma a persistência fria,
que, ao remover um sofrimento crasso,
acaba presa à última ironia,
cavando o que no espaço é só espaço,
vazia forma de uma ação vazia.

JOSÉ CHAGAS
Do livro De lavra e de palavra ou Campoemas
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Para adquirir o livro entrar contato com o email:
deusanachagas@gmail.com