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O mundo era assim um misto
de poesia e lavoura
e eu não sabia que isto
ia ser missão vindoura.
Havia no vôo das aves
qualquer coisa de mistério,
como segredos suaves
falando de um sonho aéreo.
E com meus olhos de infância
quantas vezes vi a vida
num sonho azul de distância
toda de paz revestida.
Tudo era azul nesses dias,
o céu, as flores, o ar
e as borboletas vadias
que eu não podia pegar.
Eu tinha esse azul por dentro
de mim mesmo como um sonho
que depois se fez o centro
de verve de que disponho.
Azul era nossa paz
feita horizonte de anil
cingindo o longe por trás
do meu sonhar infantil.
Todo azul era o infinito
que de tão azul doía,
ante o nosso olhar contrito,
no clarão no meio-dia.
Azul era o mês de maio,
de ladainhas e festa,
novenas que hoje ensaio
com o azul que ainda me resta.
Azul era a água mansa,
quando em meus sonhos eu pude
imaginar em criança
um mar azul no açude.
E mesmo a paisagem franca
que se destacava ao sul
se chamava serra branca
e em vez de branca era azul.
Azul era tudo quanto
coloria a vida em torno,
pois sempre o céu foi um manto
que o sertão tem como adorno.
E a infância assim dividida
entre labor e poesia,
reinava então na medida
em que o sonho a repartia.
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(Trecho do livro Tabuada de memória)
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deusanachagas@gmail.com
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