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sexta-feira, 15 de maio de 2009

Tabuada de memória - José Chagas

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O mundo era assim um misto
de poesia e lavoura
e eu não sabia que isto
ia ser missão vindoura.

Havia no vôo das aves
qualquer coisa de mistério,
como segredos suaves
falando de um sonho aéreo.

E com meus olhos de infância
quantas vezes vi a vida
num sonho azul de distância
toda de paz revestida.

Tudo era azul nesses dias,
o céu, as flores, o ar
e as borboletas vadias
que eu não podia pegar.

Eu tinha esse azul por dentro
de mim mesmo como um sonho
que depois se fez o centro
de verve de que disponho.

Azul era nossa paz
feita horizonte de anil
cingindo o longe por trás
do meu sonhar infantil.

Todo azul era o infinito
que de tão azul doía,
ante o nosso olhar contrito,
no clarão no meio-dia.

Azul era o mês de maio,
de ladainhas e festa,
novenas que hoje ensaio
com o azul que ainda me resta.

Azul era a água mansa,
quando em meus sonhos eu pude
imaginar em criança
um mar azul no açude.

E mesmo a paisagem franca
que se destacava ao sul
se chamava serra branca
e em vez de branca era azul.

Azul era tudo quanto
coloria a vida em torno,
pois sempre o céu foi um manto
que o sertão tem como adorno.

E a infância assim dividida
entre labor e poesia,
reinava então na medida
em que o sonho a repartia.

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(Trecho do livro Tabuada de memória)
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Para adquirir o livro entrar contato com email:
deusanachagas@gmail.com

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Lavoura azul

Trabalho nuvens como quem trabalha
o chão que é seu, mas eu não tenho chão.
Cultivador da natureza falha,
planto no azul o que de azul me dão.

Sobre o campo de nuvens cresce a palha
do sonho e cobre a minha solidão.
E esse abrigo de sonhos me agasalha
contra os falsos azuis que vêm e vão.

Minha roça no ar produz estrelas,
mas eu não tenho mãos para colhê-las,
nesta safra de azul que é nova e antiga.

Sou lavrador do quanto não se lavra
e é preciso que eu ceife na palavra
o maduro do azul e a sua espiga.


Poema extraído do livro Lavoura azul
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